segunda-feira, 2 de julho de 2018

[Post atualizado] Minha experiência de viver no exterior: alguns obstáculos que ninguém fala, e meu aprendizado...

Fala pessoal, na semana passada eu tinha subido esse post sem querer, antes de terminar. Então, segue a versão revisada...




Hoje vou deixar os investimentos um pouco de lado, para falar sobre um tema que tem ficado quente na maioria dos blogs: a vontade do brasileiro de largar o país e ter uma vida melhor no exterior. 




Há alguns anos tive a oportunidade de morar no exterior por um período de aproximadamente três anos. Foi em um país de primeiro mundo, que não vou citar aqui por questão de privacidade.


Ao contrário da maioria dos que estão tentando sair do Brasil hoje, fui em um esquema "mais garantido". Eu trabalhava em uma multinacional e fui enviado para a matriz para um período de expatriação, para trabalhar em um projeto específico. Então tinha toda uma estrutura por trás, tanto financeira quanto de apoio para as mais diversas questões


Porém, mesmo com toda essa estrutura e benefícios, não foi uma experiência fácil.


Ao lado de uma série de coisas bacanas e todo o aprendizado que tive nesse período, teve muita coisa ruim, muitas desvantagens que a maioria das pessoas que querem sair do Brasil não vê.



Tive momentos de desespero, de querer ligar o "botão do f@da-se", largar tudo e voltar, principalmente devido a aspectos culturais e de preconceito. Mas, com o tempo, passei a ter também momentos fantásticos de convivência com alguns nativos e com a cultura de uma maneira que poucos brasileiros teriam.


E queria compartilhar um pouco, tanto dos prós quanto os contras, com quem está pensando em se aventurar no exterior, pois vejo muita ilusão e pouca pesquisa e planejamento para entender o que realmente pode se esperar de uma vida lá fora.



E antes que alguém venha falar "ah, mas você foi em um esquema diferenciado, e com data para voltar", vamos combinar o seguinte: vou tentar passar o meu ponto de vista sobre coisas que acho que aconteceriam de qualquer maneira tanto com um expatriado quanto com um "imigrante padrão", aquele que abandona tudo e parte para o estrangeiro sem muito apoio nem data para voltar. 
 
Vou falar primeiro dos pontos negativos, e ao final dou um breve resumo dos pontos positivos mais comuns a todos, que geralmente são bem conhecidos. Vamos lá.
 
Pontos Negativos

Como o brasileiro é mal visto no mundo
 
Essa é uma coisa muito ruim que percebi naquela época, mas não tinha muita noção. O  brasileiro, em geral, tem má reputação em diversos países do primeiro mundo.
No melhor dos casos, pode até ter um tratamento neutro, mas nunca será tratado como outros visitantes de países do primeiro mundo.
 
Especialmente no país onde morei, brasileiros em geral tinham má fama devido àqueles que imigraram antes para serviços mais simples ou braçais. A razão é que estes acabaram formando verdadeiras comunidades de brasileiros, como guetos, e, com isso, veio junto toda a sorte de vagabundos, aproveitadores e praticantes de pequenos furtos ou golpes na praça. Apesar de nós sabermos que esses são minoria, o gringo não quer saber, e acaba generalizando para todo e qualquer brasileiro, até que se prove o contrário.
 
Xenofobia ou racismo
 
Aqui falo mais dos brasileiros de pele mais escura, negros ou pardos. No meu caso, como tenho a pele bem clara, não sofri nenhum preconceito, mas testemunhei vários colegas sofrerem discriminação simplesmente por sua aparência. Além disso, escutei algumas vezes turmas de gringos fazendo comentários pejorativos sobre eles, referindo-se a eles com apelidos de animais, entre outros mais pesados.

Bullying contra crianças nas escolas
 
Este ponto também não sofri na pele, pois era solteiro e sem filhos, mas tinha amigos expatriados que foram com filhos pequenos. E tiveram que frequentar a escola junto com os filhos dos gringos. Segundo me relataram, o bullying contra filhos de brasileiros era violentíssimo, tanto por parte das crianças, quanto por parte dos pais, e às vezes até mesmo de professores. Tenho um exemplo recente, de um colega da empresa atual que está expatriado em um país bem pouco miscigenado. A esposa dele acabou de largá-lo, pegar o filho e voltar para o Brasil, pois não aguentava mais ver o sofrimento diário do filho com o bullying na escola.

Discriminação no trabalho (em relação à sua competência ou capacidade intelectual)
 
Se você tiver a sorte de ir em um esquema mais estruturado, como eu fui, ao invés de encarar os empregos mais simples no setor de serviços, prepare-se. Por mais competente que você seja dentro de sua empresa, você nunca será avaliado com a mesma régua dos locais. Os chefes sempre duvidarão da sua capacidade e você terá que mostrar resultados bem acima de um nativo para obter o mesmo respeito e, eventualmente, ter as mesmas chances de ser contratado para um emprego na matriz. Aqui mais uma vez a questão não é técnica. É uma reação muito mais emocional do que racional. No nível subconsciente, eles estão tentando proteger a raça local de uma ameaça externa.

Salário e benefícios
 
Este ponto é bastante particular, depende da situação de cada um. Se você consegue um emprego em sua área de atuação, de nível superior, dependendo da negociação pode ter um bom salário e benefícios que lhe possibilitem ter uma vida confortável. Porém, nas principais cidades do primeiro mundo o custo de vida é bem alto. Então, se sua idéia é ficar alguns anos para fazer um “pé de meia”, saiba que terá somente duas opções: ou escolhe ter uma vida confortável, ou escolhe juntar dinheiro. Não há meio termo!
 
Conheço muita gente que juntou um bom dinheiro. Mas é gente que nunca fez uma viajem para um país vizinho, raramente viajou internamente, mesmo em feriados, e praticamente não teve momentos de lazer.
 
Agora, se você for para “tentar a vida”, e trabalhar em empregos mais simples, como faxineiros, garçons e atendentes, será ainda mais difícil. Conheço muitos que foram para a Europa e vivem em repúblicas, raramente tem momentos de lazer, e mesmo com muito sacrifício juntam no máximo uns 500 euros por mês. Mas em troca de uma vida cheia de privações.
 
Quero ressaltar aqui, que não estou fazendo recomendação alguma, tipo “vá ou não vá”. Isso é uma decisão pessoal e acho que depende muito da situação que a pessoa enfrenta no Brasil, para pesar se vale à pena encarar ou não.


Família e amigos


Finalmente, esse é o ponto que mais "pegou" para mim, e acho que também para a maioria.


Você tem que saber que, ao deixar o Brasil, se afastará de maneira definitiva de sua família e de seus amigos no Brasil. Mesmo com pai e mãe sua relação não será mais a mesma, será distante e mais fria.


Os amigos ficarão para trás, e, mesmo que mantenha algum contato via Skype, whats up, ou redes sociais, não será a mesma coisa. Alguns se afastarão de forma definitiva.


Você será obrigado a começar toda uma vida social do zero lá fora. E é um processo longo e nada fácil.


E, garanto, você nunca deixará de sentir falta de sua família.




Mas e os pontos positivos de se morar no exterior?
 
Bem, meus amigos. Como nem tudo são pedras, trago aqui a boa notícia: tem muitos pontos positivos também, especialmente em relação a seu crescimento como pessoa.
 
Não vou ficar listando todos aqui, pois o post já está bem longo. Então vou fazer um outro post, detalhando o lado bom de se morar no exterior, OK?
 
Então por hoje é só. Se você está pensando em se mudar para o exterior, esse é o relato de alguém que viveu na pele a experiência.

Espero que ajude...

Abraços

3 comentários:

  1. Excelente artigo Samurai. As pessoas que nunca estiveram no exterior nao sabem destes detalhes. Nem tudo são flores. Atualmente coordeno um projeto global, e no início sofri muito, achei que duvidavam da minha capacidade e sempre criticavam (estrangeiros parte do projeto). Só depois que consegui bons resultados é que o tratamento melhorou ... Por enquanto, exterior só pra viagens mesmo, estou feliz no meu Brasil e com a minha família perto de mim. Abração

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  2. Sou expatriado a 5 anos e já morei antes fora por um período menor. A verdade é que todos nós gostaríamos de voltar a viver no nosso próprio país, ninguém nunca irá se sentir "em casa" vivendo fora, mas infelizmente tem que se colocar na balança todos os pontos positivos e negativos, e quando se coloca a possibilidade real de perder a vida em um assalto (ou seu filho perder a vida devido a violência) a balança irá sempre pender para o lado de morar fora independentemente de qualquer outra coisa. Essa é nossa triste realidade, somos refugiados de um país em guerra. Quem achar que estou exagerando olhe para os números, eles não mentem.

    Sr. IF365

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