quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Os riscos do Day Trade e as promessas de dinheiro fácil para caçar "sardinhas"

Fala pessoal, 

Como vão de investimentos? Aproveitando a alta da Bolsa desde o início do ano?

Como comentei anteriormente, saí do emprego recentemente (pedi para aderir ao pacote de desligamento oferecido aos funcionários) e agora estou com bastante tempo livre para pensar no que vou fazer da vida para ganhar dinheiro. 

Ainda não atingi a IF, mas eu diria que no meu nível de gastos atual, estou em uma semi-IF. Ainda preciso ganhar um tanto para cobrir a diferença que meus investimentos não pagam. E nesse meio tempo, vou queimando tranquilamente minha reserva de emergência (afinal de contas, foi feita para esses momentos mesmo). 

A boa notícia é que não preciso necessariamente voltar a ter um "empregão" como tinha antes. Não preciso trabalhar em multinacional, com salário alto e cheio de benefícios. Talvez um trampo mais técnico, e um pouco mais tranquilo, e com salário fatalmente menor, seja suficiente.

Mas isso é assunto para um outro post. 

Como tenho tido muito tempo livre, tenho consumido muita informação disponível online sobre investimentos, e me deparei com um caminhão de vídeos e sites sobre trading. E fiquei assustado com o tanto de "traders" ou gurus do trading, que tem a formula mágica do sucesso para ganhar dinheiro de forma rápida é fácil no mercado. 

Principalmente no Youtube, você encontra diversos canais de gente que supostamente vive de trades, ou seja, compra e venda de ativos (ações ou derivativos) em períodos relativamente curtos. A famosa especulação (conforme o conceito de Benjamim Gaham em seu livro "O Investidor Inteligente"). Pode ser compra e venda no mesmo dia, o chamado Day Trade. Ou comprar um dia e vender alguns dias depois, o Swing Trade. 

O interessante é que existem pouquíssimos canais sobre investir em longo prazo, comprar e manter em carteira por um longo período. Estas seriam as modalidades de Position Trade (compra e venda do ativo em períodos mais longos) ou Buy & Hold (comprar sem a intenção de vender). 

E por que será que os canais de Day Trade são os mais visitados? As pessoas estão dispostas a esperar ou querem ganhos rápidos e fáceis? O que vocês acham? A resposta é bem óbvia. 

Parece que a grande massa ainda acredita naquela idéia de ficar milionário na bolsa, através de especulação pesada como o "Lobo de Wall Street". Tem até um canal no Youtube chamado "Ganhando a vida adoidado". Basicamente o apresentador do canal vende a idéia de que é fácil ganhar MUITO dinheiro operando a Bolsa de casa, e paga uma de "Zé Louquinho", fazendo piada tanto quanto ganha R$25.000 em um dia, ou perde R$100.000 no outro.

Engraçado, que, além de vender a idéia (ou ilusão) de que é fácil ganhar dinheiro no Day Trade, muitos canais ainda batem na tecla de que você pode começar com pouco dinheiro. 

Aí que entra o grande risco. A maioria dos canais de Day Trade, estimula as pessoas a começarem com ativos do tipo "mini", ou seja, mini contratos de dólar e índice. São mercados extremamente voláteis, e ao operar mini contratos, você pode operar bem alavancado. Com 500 reais você controla posições de 50.000 exemplo. Acontece que é muito fácil você perder os 500 reais no mesmo dia e acabar no zero. 

Outro argumento que praticamente todos os "traders" trazem é de que é normal perder dinheiro em algumas operações e ganhar em outras. Que o que importa é a consistência de ganhos, ou seja, ganhar mais do que perder. Já vi alguns falarem que um desempenho de 60% de ganhos e 40% de perdas está ótimo. 

Respeito quem faz e consegue ganhar dinheiro de forma consistente. Mas em minha opinião, com base nos argumentos acima, não é muito diferente de um cassino. Você tem que entrar sabendo que pode perder dinheiro, e se preparar para isso. No meu caso, odeio perder dinheiro, então acho que não teria estômago para ficar em frente de uma tela por horas, tentando acertar mais do que errar. 

Nunca fiz Day Trade, mas fiz operações de Swing Trade diversas vezes. Estudei bastante análise técnica, como interpretar padrões, indicadores, em diferentes escalas de tempo. E mesmo no Swing Trade, é muito difícil entrar e sair no timing perfeito, sem acionar o stop loss algumas vezes. 

Para quem é iniciante e está tentado a se aventurar nesse mundo, tanto do Day Trade quanto do Swing Trade, recomendo o Livro "Aprenda a Operar no Mercado de Ações" do Dr.Alexander Elder, que é um clássico, e a maioria dos traders profissionais já leu. 

O autor, nesse livro, desmistifica muito das baboseiras que os gurus falam nesse canais de Youtube, para tentar atrair mais sardinhas para o mercado, principalmente aqueles que são bons comunicadores, com muitos seguidores, e acabam sendo de alguma forma patrocinados por corretoras. Pois, para as corretoras, quanto mais sardinhas fazendo besteira no mercado, mais dinheiro com corretagem eles ganham. 

O autor explica os métodos dele, inclusive para Day Trade, seu set up operacional, mas, acima de tudo, o livro fala sobre o mindset, controle emocional e disciplina necessários para sobreviver no mercado (e ganhar algum dinheiro). 

Se você não quer perder dinheiro, seguindo conselhos dos supostos gurus, estude muito, mas muito mesmo, antes de se aventurar no mercado. Gaste bastante tempo testando seus set ups, em simuladores, ou contas demo, e depois veja como sairá seu lado emocional ao usar dinheiro de verdade. 

Minha intenção aqui não é demonizar o Day Trade. O que eu quis trazer aqui é mais uma crítica às promessa de dinheiro fácil, que a maioria desse canais faz. 

Não é fácil tirar dinheiro do mercado. Vou repetir: não é fácil tirar dinheiro do mercado. Lembre-se disso. 

Quando você está fazendo trade, basicamente alguém tem que perder para você ganhar. E geralmente quem ganha são os grandes players, ou os market makers (se você não sabe o que é isso, estude antes de se aventurar). 

No meu entendimento, Day Trade é uma modalidade bem arriscada, mas válida, portanto, você deve se preparar de acordo. Tem que estudar muito, e treinar muito, antes de ter alguma chance de ganhos (ou ganhar mais do que perder). 

O ideal seria arriscar muito pouco de sua carteira nesse tipo de atividade de especulação. Eu não usaria mais do que 5% da carteira, como "capital alocado a risco" (ou a trades mais curtos). Tem que ser algo que você está disposto a perder, mas vai fazer de tudo para ganhar, e se der certo, vai dar uma turbinada no rendimento geral da carteira. 

Bom, essa é minha modesta opinião? E você? Acha que dá para viver de trade? 

Abraços






terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

De volta às postagens, vida nova e a importância do desapego...

Salve pessoal, 

Espero que estejam todos bem. Nos últimos meses parei de postar, pois estava bem desanimado e não tinha inspiração para vir aqui e escrever. Muita coisa mudou na minha vida nesse meio tempo, inclusive emprego e até a cidade onde moro. Então acho que isso me tirou um pouco do rumo.

Após vários "facões" na empresa, vi que o cerco estava se apertando e que poderia "rodar". Desta forma, antes que acontecesse o pior,  optei por fazer um acordo e pegar o famoso PDV (plano de demissão voluntária). 

Foi uma decisão difícil, pois eu não acreditava totalmente que poderia ser demitido, dado meu histórico de bom desempenho, mas acabei priorizando o aspecto de saúde (física e mental) sobre o financeiro. De um lado eu estava completamente desgastado, inclusive cheguei a ficar doente, com a famosa síndrome do burnout. Para se ter uma idéia, cheguei a ficar três noites seguidas sem dormir.  (É impressionante o quanto pessoas colocadas no "modo-sobrevivência" podem prejudicar umas às outras).  Por outro lado, vi que no PDV pegaria uma grana razoável. Só de extras (além de rescisão e FGTS, que pretendo não gastar) entrou uma grana que me permite viver por um ano, em modo mais frugal do que estava acostumado. 

E, ao contrário dos casos catastróficos que são mostrados na mídia, de gente desempregada há mais de dois anos, não imagino que terei tanta dificuldade para achar outro emprego, baseado em meu currículo e contatos. Além do mais, agora estou morando com a Sra.Samurai em uma cidade maior onde ela terá muito mais facilidade para achar emprego em sua área. Então serão dois remando o barco. E nem sei se quero voltar para o mercado tão cedo. 

Nós, de classe média (a maioria aqui, acredito), somos educados para acreditar que as coisas na vida são sempre uma crescente. Estude mais e tenha mais chances. Esforçe-se mais que os outros, seja promovido e ganhe mais. Principalmente aqueles que buscam carreiras tradicionais e optam por trabalhar para os outros. Em nossas cabeças, o modelo de crescimento predominante é linear. Passo a passo. Degrau a degrau. Não existem saltos ou descontinuidades no caminho. 

Acontece que, quanto mais você vai progredindo nas organizações, a competição fica mais atroz, e até desumana. É matar ou morrer. E geralmente quem ganha é quem cultiva mais fortemente essa mentalidade na cabeça: de que deve estar sempre progredindo, indo para frente (ou para cima), custe o que custar. 

No meu caso, progredi até que bem. Mas chegou num ponto que os questionamentos nunca saíam da minha cabeça: "até onde vale a pena continuar nessa corrida dos ratos"? "Estou ficando velho e não estou aproveitando a vida". Será que o modelo correto é se matar de trabalhar, envelhecer 10 anos em dois, ficar careca e diabético aos 30, obeso e com pressão alta aos 40 , para curtir a vida só no dia da independência financeira? Obviamente exagerei no exemplo, mas todo mundo conhece alguém assim, não é mesmo?

O bem mais precioso que existe nessa vida, depois da saúde, é o tempo. Estou aproveitando esse tempo "livre" (da corrida dos ratos) para reprogramar minha vida, cuidar da saúde (malhando muito, resolvendo todas as pendências médicas), dos relacionamentos, e aprender coisas novas. 

Outra coisa que tenho praticado é o tal do desapego. Como mudei para um apartamento menor, tive que me desfazer de muita coisa. E é impressionante o tanto de tranqueiras que eu tinha acumulado. Só de livros, devo ter doado uns 100 para um sebo. Fora móveis e utensílios, que você acha que tem algum valor, mas vai ver na OLX e mal pagam cem reais. No fim, a maioria foi tudo doado mesmo. E é muito bom ver a casa mais espaçosa sem coisas desnecessárias. Estou pensando, inclusive, em me desfazer do carro, e testar o aluguel de veículo, comparando os custos. 

Para finalizar, mesmo com todas essas mudanças, minha carteira financeira cresceu bastante com as verbas rescisórias mais o PDV.  Mas, como falei, um tanto já está separado na reserva de emergência, para viver até que esteja trabalhando em outro lugar, ou com outra coisa. Então, se eu conseguir algo que me pague os custos fixos logo, antes de queimar muito dessa reserva, ao final do ano meu patrimônio terá dado um belo salto. Porém essa é justamente a mentalidade que quero combater. Afinal de contas, se tiver que gastar a reserva toda, foi feita para isso mesmo. Mas ainda predomina aquela mentalidade do aportador, de que o patrimônio sempre deve crescer. O tal do pensamento linear que mencionei no texto. 

Abraços