quarta-feira, 23 de maio de 2018

"Quanto mais se ganha, mais se gasta" - o paradoxo da vida corporativa

Caros confrades da Finansfera e visitantes do blog.

Esperam que estejam todos bem.

Essa semana, conversando com meu chefe sobre carreira, sobre a situação da empresa (que não está muito bem agora) e outros temas relacionados ao trabalho, houve um daqueles raros momentos onde a pessoa fica tão à vontade que passa a contar a história de sua vida.

Então, falando de sua carreira, ele me confidenciou que sempre optou por uma trajetória de crescimento mais lenta e gradual, mostrando até um certo comodismo de quem não gosta de correr muitos riscos.  

Ele já está beirando seus sessenta anos de idade, tendo passado por umas três ou quatro empresas, em mais de trinta anos de carreira, e possui hoje um cargo executivo de alta relevância na organização. Seguramente tem um salário bem alto (chuto algo acima de 30K por mês), fora bônus bem gordos e alguns benefícios comuns a essas posições, como plano de saúde top e plano de previdência com boa contribuição da empresa.

Porém, como todo bom representante da comunidade dos blogs de finanças, sempre me pergunto: "será que esse cidadão soube gerenciar bem o seu dinheiro ao longo da vida? Construiu um bom patrimônio, que lhe gere uma renda passiva interessante? Tem um plano B caso as coisas dêem errado?".

A resposta, para surpresa de muitos, é um retumbante NÃO. Obviamente que não tenho intimidade para perguntar se a pessoa juntou uma quantia X ou Y ao longo da carreira, se soube investir o dinheiro, etc. Mas geralmente as pessoas deixam transparecer evidências bem claras de onde se encontram na escala da Independência Financeira.

O fato é que, em decorrência da situação financeira da empresa, e a falta de melhores perspectivas, já está rolando o famigerado "facão" na organização, ou seja, demissões em massa.  E nesses momentos, percebe-se claramente o nível de desespero daqueles que estão longe da independência financeira.

Geralmente esse grupo é bem fácil de identificar: consomem acima de suas possibilidades (gastam mais do que ganham), via de regra são salvos por receitas não recorrentes (13o, férias, bônus), tem nível baixo de educação financeira (tem orgulho de usar seu cartão Infinity ou do Itaú Personalité - mas não tem noção de quanto pagam por esses serviços) e, em muitos casos, a mulher não trabalha e tem um nível muito alto de consumo, principalmente no cartão de crédito.



Obviamente, que o cidadão em questão se encaixa nesse grupo, até pelo desespero que tem mostrado desde que a empresa engatou "ladeira abaixo".  Então, voltando ao início, quando ele me disse que sempre preferiu crescer de forma lenta e gradual, em lugares onde tivesse uma certa estabilidade, pensei comigo mesmo: "é bom você rezar então pra que esse crescimento lento e gradual nunca acabe, pois o tombo será muito forte e dolorido", dado o alto padrão de vida e consumo de sua família.

Infelizmente, essa situação é muito comum em nossa classe média. A pessoa vai subindo de posição e cargos em uma organização e quanto mais ganha, mais gasta.


Mas o que vejo de mais importante, e mais grave, nessa situação, é que geralmente as pessoas que tem um emprego desse nível, parecem meio anestesiadas da situação ao redor. Estão em uma zona de conforto muito perigosa, se achando eternos merecedores daquela posição por todo o seu histórico de crescimento na carreira. Me lembra aquela história do sapo escaldado na panela. Enquanto a água vai esquentando ele vai ficando acomodado, sem perceber que está muito próximo de morrer cozido.

Por outro lado, eu tenho passado pela mesma crise que essas pessoas, aguardando o mesmo "facão", mas, incrivelmente, estou muito mais tranquilo. E qual é o segredo?

Simples, é somente o resultado do esforço desprendido nos últimos anos para fazer patrimônio e buscar algum nível de independência financeira.

Apesar de ainda estar longe de onde gostaria de estar, em termos de patrimônio ou renda passiva, a reserva que construí até agora me permitiria passar uns anos sem um trabalho formal, ou "emprego", e pela primeira vez na vida eu vejo que isso não seria o fim do mundo. Depois de muito tempo, consigo ver uma situação dessas mais pelo lado da oportunidade do que da tragédia.

Mesmo que tivesse que queimar patrimônio durante algum tempo, tenho certeza que logo teria algo para me gerar renda. Talvez não no mesmo nível de meu emprego anterior, ao menos no começo, mas certamente após um tempo teria outra fonte de renda fazendo um trabalho mais autônomo e com horários mais flexíveis.

Amigos, sei que isso pode parecer uma grande viagem, mas qual é a grande mensagem aqui?

À medida que você avança no caminho da independência financeira, e começa a formar algum patrimônio, chega um momento que começa a ver uma luz no fim do túnel.  Você começa a perceber lá no fundo uma tranquilidade que não tinha antes e consegue se manter mais sereno em situações onde a maioria das pessoas perderia o controle.

Parece meio louco, mas lá no fundo, algo lhe diz que, se você perder o emprego por exemplo, pode até ser uma coisa boa. Um gatilho para começar coisas que sempre quis e nunca teve coragem.

Por isso que repito, o que muitos já falam aqui: faça sua reserva de emergência, que lhe permita viver pelo menos um ano sem trabalhar. Depois continue poupando e investindo mais. Para isso, poupe pelo menos 20% do que ganha, sem desculpas. Sei que para muitos pode ser bem difícil no começo, mas é o único caminho para as pessoas que tem um emprego "normal".

Não vou passar o "beabá" aqui, pois tem muito blog melhor que o meu onde tem todo o passo-a-passo pra se começar a poupar, investir e buscar a IF. Prefiro compartilhar meu aprendizado  contando minhas histórias e experiências, ao invés de passar "material técnico".

Por hoje é só....  eu quis compartilhar um pouco desse sentimento de tranquilidade que todos devemos conseguir na busca da IF. O sentimento de, aos poucos, deixar essa "matrix" que domina nossas mentes, da rotina de trabalho 8 x 5, da dependência de um bom salário, e de toda a cultura consumista que move a classe média atualmente.

Abraços






















7 comentários:

  1. Bela reflexão Samurai!

    E ela vai de encontro a um post lá do blog chamado

    - "Use o Poder que o Dinheiro te dá para tornar seu trabalho melhor"

    É a ideia você transmitiu neste post. Ao montarmos uma reserva, um patrimônio, chega uma hora que a dependência do trabalho vai diminuindo e você vai ganhando força até para negociar uma situação melhor onde você trabalha!

    Veja minha chefe, aposentou e agora passou a ditar os dias em que trabalha. Ela não vem mais de seg a sexta. Antes de aposentar já não vinha as quartas, agora chega a vir apenas duas vezes. E isso graças ao conforto que ela construiu.

    Abraço!

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    1. Inglês, já trabalhei em uma empresa onde havia uma gerente que fazia questão de projetar seu poderia financeiro dentro da organização, que vinha basicamente de herança de sua família, e é impressionante ver como a organização "abaixava a cabeça" para ela. Conseguiu negociar pelo menos duas promoções com base em seu poderio financeiro e prestígio na cidade.

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  2. Acho que vc resumiu bem o grande divisor entre as pessoas que alcançam a IF ou mesmo uma aposentadoria tranquila daqueles que irão ter que lutar até o fim da vida para "manter a cabeça fora "d`agua", se fosse possível dar um único conselho a quem busca a IF esse seria que se deve evitar de todas as formar deixar o padrão de vida inflacionar conforme a carreira for progredindo. Se fizer só isso as chances de IF são de 99% na minha humilde opinião.

    Sr. IF365

    Blog do Sr.IF365 | Acompanhe meus últimos 365 dias antes da IF e Aposentadoria Antecipada
    www.srif365.com

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    1. Meu caro, acho que a grande tentação para quem progride na carreira, e consequentemente em termos de salário e benefícios, é o aumento do padrão de consumo. Na sociedade atual é muito difícil ficar imune ao "bombardeio" na propaganda consumista. Eu sou muito tranquilo, e tenho um padrão de consumo muito abaixo de meus pares hierárquicos, mas vejo colegas arruinarem suas finanças, mesmo com salarios altíssimos para os padrões brasileiros.

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  3. Rotina de trabalho 8x5 para alguns poucos abençoados né? a maioria é 8x6, 9x5...
    https://investiremdisciplina.blogspot.com.br/

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    1. Verdade! Só usei um exemplo genérico. Realmente a jornada 8 x 5 é mais exceção do que regra no Brasil. Principalmente nas grandes cidades, onde se fica mais de 10 horas no trabalho quase que diariamente.

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  4. ÓTima reflexão meu caro.. Gostei mesmo.

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