domingo, 30 de setembro de 2018

Serei feliz ao atingir a independência financeira? Reflexões sobre "Homo Deus" e a luta contra nosso cérebro primitivo

Fala pessoal, 

Domingão, quase 30 graus lá fora, e logo mais vou zarpar para uma trilha próxima de onde moro, e provavelmente entrar em uma cachoeira bem gelada. 

Então hoje vou deixar política e economia de lado, e trazer um tema que me veio à cabeça, ao ler um livro excelente, que ainda não terminei, mas que já recomendo sem pestanejar: "Homo Deus, Uma breve história do amanhã" do Yuval Noah Harari. 

Posso fazer uma resenha após terminar o livro, e contar um pouco mais para vocês, mas ao ler um dos capítulos, me veio um forte insight que tem a ver com a relação direta entre nossa busca constante da felicidade versus a independência financeira. 

No início do livro, o autor nos trás uma visão bastante interessante de como a evolução da humanidade no século 20 foi maior e mais significativa que toda a evolução anterior, porque conseguimos erradicar (ou, ao menos, controlar fortemente) os três maiores fatores que historicamente reduziam a expectativa de vida: a peste (doenças), a fome e as guerras. 

Claro que sabemos que ainda existem doenças que matam muitas pessoas, existem guerras na Síria, em países africanos ou outros conflitos isolados. E ainda tem gente que morre de fome. Porém, em uma proporção infinitamente menor do que em outros tempos. 

Há alguns séculos atrás, você sempre conviveria com a sensação de que, a qualquer momento, sua terra poderia ser invadida por um inimigo externo, sua família poderia morrer de fome em função de uma colheita perdida pelo frio rigoroso, ou sua família inteira poderia morrer em função de uma peste como a gripe espanhola. 

Com o avanço da ciência, tudo isso está de certa forma controlado, e a expectativa de vida média das pessoas aumentou muito. Ironicamente, hoje não temos conflitos armados em larga escala, como a primeira ou segunda guerra, porque as grandes potências estão todas nuclearizadas, e um conflito dessa magnitude levaria à extinção mútua. 

A partir daí, o autor traça um panorama dos próximos grandes desafios da humanidade, ou as grandes ambições, onde já existe muito investimento em pesquisa científica: a busca da imortalidade e  busca da felicidade. 

Já existem empresas nos EUA investindo muito para entender os mecanismos do envelhecimento, e, segundo o autor, entre os anos 2100 e 2200, acredita-se que teremos os processos de envelhecimento sob controle, ou seja, haverá possibilidade real das pessoas (ao menos aquelas que puderem pagar) de postergar o envelhecimento indefinidamente, tornando-se seres imortais. 

Agora, a outra grande questão, que é o que quero tratar aqui, é a busca da felicidade. 

O autor aborda a questão da felicidade sob um prisma que nunca parei para pensar. Tudo o que sentimos em termos de felicidade ou infelicidade, são sensações. Independentemente do fator externo que causou, nossa percepção de felicidade é baseada em sensações de nosso corpo. 

É tudo baseado em processos bioquímicos em nosso corpo. E as duas grandes forças que regem tudo isso são as necessidades de sobrevivência e reprodutivas. Daí que vem o grande prazer em comer um belo churrasco, ou, em última instancia, o prazer sexual ao estar com uma parceira (ou parceiro) atraente. 

Mas comer, ou o ato sexual em si, são o fim, e não o meio. E a busca da felicidade não acaba quando conseguimos um prato de comida ou uma noite de sexo. O sentimento de satisfação, de ter conseguido passa, e depois de um tempo já não estamos mais satisfeitos, queremos mais. 

Aí que está a cilada do nosso cérebro. Você quer fazer churrasco todo fim de semana, e não uma vez só, porque, em um nível muito básico, seu cérebro está te estimulando a buscar mais comida. Você olha para outras mulheres na rua, independentemente se é casado ou solteiro, porque seu cérebro está te estimulando a aumentar as chances de se reproduzir. 

Agora, fazendo uma analogia menos básica, com eventos cotidianos. Você rala, rala no trabalho e consegue uma promoção. Por alguns dias sentirá aquele êxtase (a sensação, dos processos bioquímicos) de ter conseguido, da conquista. Mas seu cérebro, de maneira proposital, cessará essas sensações de prazer, e logo você não estará mais no mesmo nível de felicidade. Seu cérebro faz isso para você buscar mais. Aí você começará a planejar sua próxima promoção, começará a ralar novamente, por mais um momento fugaz de glória e prazer momentâneos. 

Você já parou para pensar porque muitas pessoas usam drogas? Elas estão indo pelo caminho mais fácil de manipular suas sensações de prazer, estão indo direto no nível bioquímico (ao invés de ralar em um emprego para ter prazer nas conquistas, materiais ou sexuais). É aí que vem o próximo desafio da humanidade: manipular as sensações relacionadas à felicidade. 

Mas então, qual foi o grande insight que tive relacionado à independência financeira? 

Obviamente, que, se você traçou o objetivo X para sua independência financeira, ao alcança-la, seu cérebro não se dará por satisfeito. Ele sempre estará lá te estimulando a satisfazer seus desejos mais básicos (fome e sexo). E as sensações de felicidade serão sempre rápidas e passageiras até que o tédio prevaleça. Ou seja, a felicidade, em si, não será permanente e duradoura. 

Por isso que, vemos pessoas com patrimônios de um, cinco ou dez milhões que não conseguem parar. Estão sempre fazendo algo, empreendendo, buscando outras atividades. 

Acredito muito no poder da ciência, e que logo teremos algumas pilulazinhas que nos tornarão menos dependentes desses impulsos mais básicos do cérebro, e que tornarão nossa sensação de felicidade mais perene e permanente. 

Mas até lá, dependemos de domar nossos impulsos mais básicos e não cair nas armadilhas de nosso cérebro primitivo. 

Enquanto a ciência não avança, temos que batalhar com nosso cérebro primitivo com as armas que temos. No meu caso, algo que quero levar mais à sério é a meditação. Ainda estou aprendendo, mas parece ter o potencial de me render bons resultados em termos de autocontrole. 

Algo que também me ajuda é estar em contato constante com a natureza, através de trilhas e caminhadas. Não sei exatamente o porque, mas isso parece que educa, ou constantemente lembra meu cérebro que a felicidade está muito mais no viver, no experimentar, do que no ter. Está mais na jornada do que no destino. 

Abraços















5 comentários:

  1. ótimo post samurai. Essa análise que você teve sobre a IF , eu observo com meu pai.

    Ele alcançou a IF a 4 anos e no começo ele achou que iria parar de trabalhar e ponto , só viveria fazendo oque ele queria. Mas não foi bem assim. Logo o tédio de não ter uma rotina foi se estaurando e não demorou muito para ele voltar a trabalhar . Mas até hoje ele ainda reclama que tem horas que ele se sente entediado , não consegue saborear a riqueza que tem em volta.

    Então perguntando para outros caras mais velhos que tem dinheiro , o porque de eles ainda trabalharem. Ele sempre responde que se pararem de trabalhar , ter uma rotina , é a mesma coisa de ter morrido.

    Eu acho que o segredo da felicidade é oque o Greg Plitt pregava. Ter sempre novos desafios , sempre estar evoluindo com um propósito de deixar um legado , fazer a diferença no mundo.

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    1. Peão, você falou tudo: acho que todo mundo quer deixar um legado, fazer a diferença. Seja escrevendo um livro, construindo algo fisicamente ou ajudando as pessoas. Simplesmente parar e viver de renda, vejo isso com meu pai também. Sempre tenta conseguir um servicinho aqui e outro ali como autônomo para não morrer de depressão em casa.

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  2. Ótimo post, Samurai!

    Não me lembro exatamente aonde li ou ouvi isso (deve ter sido pesquisando sobre budismo), mas você falou bem: a feliciade é fugaz e, como uma droga, sempre vamos querer mais. Por isso, ao invés de buscarmos a felicidade, deveríamos buscar a PAZ interior.

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    1. Micro investidor nerd, esse lance do budismo também é comentado nesse livro que citei. O autor fala que o budismo realmente busca desacelerar nossa mente, tirar dessa espiral de querer sempre mais. Mas por outro lado, ele fala como novas drogas, ou remédios, serão capazes de fazer isso de uma forma muito mais eficaz.

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  3. Caro Samurai,

    Primeiramente. Obrigado pelo texto. Esse autor é o queridinho de algumas celebridades: Barak Obama, Mark Zuckerberg, Bill Clinton, Madona

    Acredito que a felicidade não está em um determinado lugar, na verdade já somos felizes, pois a felicidade está na nossa mente, basta reconhecermos isso. Como se faz para reconhecer que já é feliz. Contemplando a vida, a saúde, a natureza, dando menos importância para matrix. O estilo de vida frugal se enquadra bem nesse contexto. Isso que vc falou é excelente, a meditação. Essa bendita meditação tem a função de nos conectarmos com nós mesmos, com nossa essência, e quando começamos a entender esse processo começamos a nos tornar mais humanos e gratos por tudo que temos e consequentemente nos sentimos felizes.

    Em relação a IF assim como a felicidade é um processo bem subjetivo. Alguns vão estruturar uma rotina de vida fazendo o que gosta, outros tem a mania de reclamar de tudo, esse tipo de gente, não tem jeito, se estiver num emprego ruim vai reclamar, se tiver ganhando bem vai achar motivo pra reclamar,..........conheço pessoas hiper felizes com a IF, mas o que vejo que tem em comum é o sentimento de gratidão, se tendo gratidão do fundo do coração acaba não sobrando espaço para reclamações.

    Abs e bons investimentos.

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